segunda-feira, 7 de junho de 2010

Por que é tão difícil às pessoas perceberem a própria alma, tanto na matéria quanto após a morte

(Estudo do livro: "Cartas de uma Morta", 2ª parte)

Mesmo para os tristes e os vacilantes na fé ressurgem, de vez em quando, remotas questões ainda não solucionadas, enraizadas no Espírito do Homem desde o alvorecer humano: Qual a minha missão neste mundo? Para onde vou?


Durante as primeiras décadas de minha atual existência, os caminhos percorridos foram obscuros e desafiadores para um infante - adolescente. Certos obstáculos vêm da educação no lar e da mistura com influências do meio ambiente. A chave está na infância. Um início de vida mal traçado é a pior coisa que pode acontecer a um ser humano.

Para mim a alma só passou a existir realmente após a meia idade. Custei a perceber que todos têm alma e que o corpo (energia) é só um veículo para o Espírito. O Universo por inteiro existe e funciona sob o comando de uma Mente Única. Atraiu-me a atenção a constatação da existência de pessoas de nível acadêmico, com diploma universitário debaixo do braço, filhos de pais e mães com fé vacilante, mas, crentes, já na idade madura, estufarem o peito e declararem: “- Eu sou ateu. Não existe Deus. Tudo se originou por obra da própria matéria que se expandiu. Conquisto o meu lugar no mundo com ou sem Deus”.

É devido ao seu orgulho e arrogância submersos na inconsciência que o ser humano necessita de vidas sucessivas para descobrir Deus Verdadeiro, e a sobrevivência do Espírito, que é eterno. No caso de Maria João de Deus, apesar de católica fervorosa, ela já descobriu que era um espírito imortal, após seu desencarne.

A arrogância se infiltra pela ignorância. A pessoa que anda pela vida sem luz, sem mínimo conhecimento, ao chegar a hora da aflição e ninguém escapa disto, sofrerá muito mais, sem ter consigo a bússola da fé lúcida. Leiamos o que ela descreveu em sua descoberta após a morte física:

“A voz de comando desobedecida

Desejava orar... Todavia, os pensamentos não conseguiam obedecer-me, dispersos pela confusão estabelecida em meu mundo interior, em virtude dos padecimentos que me percorriam os centros de atividade orgânica; e a minha vontade era semelhante a uma voz de comando, totalmente desobedecida por elementos rebeldes e indisciplinados.

Hoje sei que naqueles angustiosos momentos muitos seres se conservavam, embora intangíveis, ao meu lado, amparando-me com os seus braços tutelares e compassivos, porém não os distinguia.

Sentia-me sucumbir lentamente... A princípio, gemidos de sofrimento escapavam-se do meu peito torturado, compreendendo a ineficácia dos esforços que fazia para não morrer; mas tão rude era aquela suprema tentativa de resistência, que me abandonei, finalmente, àquelas forças poderosas e invencíveis que me subjugavam.

Como numa atmosfera de sonho

Amanhecia... afigurou-se-me, então, uma trégua a tantos padecimentos. Parecia prestes a dormir, mas, sob as mesmas impressões de dor e mal-estar, envolvi-me nas influências do sono, embora sendo presa de indescritíveis pesadelos. Ouvi tudo quanto se pronunciava ao redor do meu leito e vi a ansiedade de quantos dele se abeiravam, mas todas essas impressões eu as recebia como se estivesse mergulhada em mau sonho.

Desejei falar, manifestar vontades e pensamentos; isso, porém, era impossível. Contemplei pesarosa a imagem do Crucificado, que me puseram nas mãos enlanguescidas e quis sinceramente pensar nele, orar com unção, segundo os meus hábitos. Todavia, reconhecendo-me cheia de vida, não obstante as dores pairavam os meus sentidos como numa esquisita atmosfera de sonho...

Percebi todos os carinhos que dispensaram ao meu corpo e que me foram igualmente proporcionados em vida; e ouvi as lamentações de quantos deploravam a minha ausência. Ansiava por movimentar-me sem que membro algum obedecesse aos meus impulsos, e, outras vezes, fazia inauditos esforços para despertar-me, fugindo de tão singular pesadelo. Afigurava-se que me cobriam de flores e sentia a carícia dos braços dos meus filhos, enlaçando-me com amargurada ternura; e dizia-lhes, mentalmente, entre lágrimas:

- Meus filhos, eu não morri!... Aqui estou e sinto-me realmente mais forte para vos proteger e amar. Por que chorais aumentando a minha angústia?

Mas tinha a boca hirta e os braços gelados para retribuir aquelas expansões de desvelado carinho! Apenas possuía a sensação de lágrimas ardentes, que me rolavam sobre as faces descoloridas, como a estátua viva da amargura e do silêncio.

Na vertigem da retrospecção

O ataúde pareceu-me um novo leito; porém, quando me convenci de que me arrebatavam com ele, entre os angustiosos lamentos dos que ficavam, uma impressão penosa, atroz, subjugou-me integralmente. Achei-me, então, sob indefinível sentimento de medo, que me aniquilou a totalidade das fibras emotivas. Um choque de dor brusca dominou-me a alma e eu perdi a consciência de mim mesma...

Após algum tempo, cuja duração não posso determinar, paulatinamente afigurou-se-me acordar, contudo, a princípio, achava-me envolvida no mesmo panorama de sonho. Como se a memória fosse possuída de um admirável poder retrospectivo, comecei a ver todos os quadros da minha infância e juventude, relembrando um a um os mínimos fatos da minha existência relativamente breve. Via-os, esses quadros do pretérito, com naturalidade, sem admiração e sem surpresa...”

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