sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O dia em que a cocaína morreu na praça


Subitamente, um homem surgiu na praça dizendo: “Você é Natasha?”

Ivan e Natasha encontravam-se distraidamente num ponto de drogas de um bairro moscovita. Como não existe acaso, digamos que foi um encontro existencialmente marcado. E desde logo ficou claro que vivenciariam juntos. Ela com 29 anos, vinha de uma família de antigos imigrantes poloneses. Ele, com 33 anos, era bisneto de nobres integrantes da degradada corte russa de Nicolau II - “Os Romanov”, que juntamente com sua família acabaram sendo fuzilados pelos revolucionários que depuseram a monarquia em 1918, tendo sido os membros da dinastia e que dizimados ou expulsos migraram para várias regiões da Europa. Ivan e Natasha frequentavam albergues públicos. Ele vendia revistas de artistas com fotos e reportagens colhidas nos bastidores dos palcos e cinemas, garantindo assim a subsistência de ambos.
Nas suarentas noites de verão eles passaram a repousar numa praça campestre ao lado de uma antiga via férrea. Uma ou 2 vezes por mês ele a levava a um hospital público que tratava osteoporose e reumatismo. No inverno Natacha passou a sentir fortes dores nas pernas. Cabia a Ivan a compra de cocaína para a porção diária dos dois, o que aliviava nas dores. As agulhas com que se injetavam não eram esterilizadas e raramente eram substituídas. Numa sacola de lantejoulas coloridas guardavam o que precisavam para manter a penúria do vazio. Ivan nunca se queixava. Tratava dela como se fosse enfermeiro.
Pela sonolência dele e a fraqueza dela, a comunicação era escassa. Eram 10 horas da manhã quando os dois acordaram ao agito de um trem transiberiano chegando. Havia um tom de ansiedade nos passageiros que desceram em massa para participar de um festejo religioso na Igreja Ortodoxa, a três quadras dali.
Ivan perguntou com lassidão escondida no olhar:
- Passou a dor?
Natasha diz que não com um aceno de cabeça. Ele retira os frascos da sacola e diz:
- Essa dor aí já vai passar... Ele enfia a agulha na nádega dela e a seguir procura uma veia no próprio braço; “ Ah, essa adrenalina... O sangue fluindo... É como se um aventureiro perdido no deserto recebesse um copo d’água fresca, ou encontrasse um oásis na hora da sede com língua pegajosa. Os caretas não entendem que este é o paraíso na Terra. Meu bem, na dose seguinte vou achar tua veia e essa dor some. As doses para hoje nós temos.”
Daí a instantes, recuperando o tom brando de voz temperado pela droga ele relembra:
“- Sei que tive um sonho. Eu tinha 10 anos. Veio uma enfermeira. Eu estava num barranco e ela vestia um avental branco e me exibia um galho de planta que eu não conhecia e, com o dedo indicador da mão me mostrava que eu não devia usá-la ou colhê-la. Acho que tal planta seria uma papoula ou outra parecida.”
Subitamente uma menina que passava de mão dada com a mãe, cruzando a calçada, entrega a jovem um impresso que trazia na mão contendo a figura do Nazareno Jesus, dizendo: “Vem e Segue-me!”.
Mas Natasha divaga, pensando:
- Eu era igual a essa menininha que veio até aqui. Meus cabelos eram cacheados iguaiszinhos aos dela. Ivan prefere cabelos cacheados?
Ivan murmura em voz baixa:
- Às vezes penso que minha mãe estava certa. A vida não tem sentido sem algo mais fora bem estar. Já na escola eu não aceitava a explicação dos padres. Eu vivia em transe, tonto mesmo. Mas nunca deixei de buscar a Verdade. Busquei, ah sim, busquei... e encontrei belas mulheres... Depois não havia prazer em nada... Por muito tempo tive várias beldades ao mesmo tempo: “É tu, não é tu... é tu, não é tu...”, até que cansei desse poço sem fundo. Aí, busquei fortuna rápida no jogo, me endividei e tive que mudar de cidade. Também meu pai se arruinou na roleta. Até que numa madrugada de perdas, o homem que bancava a roleta me convidou para um relaxamento sem compromisso. Surpreso, aceitei por falta de alternativas. Hoje me questiono por minhas escolhas. Houve um momento que foi perdido. Na escola eu tinha 10 anos, a professora Petronila aos sábados levava-nos à Igreja para orar, eu não sabia pra quê... não sei. Fiquei ateu antes de entrar em religiões. Meu bisavô era ateu e morava no palácio dos Romanov. O imperador rezava nas missas oficiais e andava em procissões. Dramas e tramas ficavam nos bastidores.
Natasha com o pensamento voando longe, interrompe:
- Você fala demais... Sempre a mesma história! Eu quero falar... Ainda não vomitei.
- Você não me ouve! - Replicou Ivan.
Continua Natasha:
- Eu me acalmo com as injeções que você me dá. Quando tomo, o mundo pára e o sangue flui calmo nas veias. Vejo mais o chão que o céu. Você vê aquele cão ali buscando comida? Eu queria ter um...
- Virei maníaco. Meu bisavô quando fugiu de São Petersburgo e todos da Corte ficaram na miséria. Nicolau estava doido. Rasputin falava de Deus com o crânio cheio de Vodka. Conhecia um pouco de latim e encantou a Imperatriz. Ai de nós... – lembra. Ela pressentia que havia no ar algo intuindo que alguma coisa ia acontecer, mas preferiu dizer:
- Minhas pernas estão com pus até as unhas. Você me leva para comer no albergue? Hoje eu acordei para falar...
Ivan interrompe Natasha:
- Ouça, acabou a missa e há um coral cantando. Ouça... Eu tenho que te proteger. Você anda fraca. O inverno siberiano vai chegar forte esse ano.
- Eu não quero ir para “crakolândia” aquilo lá tá muito sujo, os viciados andam sujos. Não consigo respirar com o mau cheiro - diz Natasha.
Meio aturdido pelo efeito da droga, Ivan continuava em suas divagações:
- O último médico que consultei me disse: “Seu avô era alcoólatra e você deve ter em seus genes esperas para o alcoolismo crônico”. Eu queria lutar contra as drogas, mas desanimei quando ele me disse que eu não escaparia do álcool... Um dia nós vamos sair da meleca. A gente vai sair. Vai aparecer alguém e eu levo você para um palácio. Vai haver um outro Godot. Pra deixar a droga tem que botar outro valor no lugar... Até hoje não encontrei, mas quem sabe um dia encontro.
- Eu não quero nada mais. Queria um amor. Você não me quer, faz um ano que não me procura... – reclama Natasha.
- Vou levá-la para um palácio maior que o São Petersburgo, o do Nicolau...
- Ou para os maus cheiros da “crakolândia” – acrescenta ela, com sorriso irônico.
- Tem uma coisa... Nós não nos amamos. Você precisa das 3 doses que arranjo e eu tenho que proteger você – diz ele. Ela então pergunta:
- Ivan, você vê o homem de preto ao lado daquela árvore? Ele quer alguma coisa, ele nos olha com interesse... Não será um assaltante?
- Sim estou vendo, mas só o que a gente tem são as roupas e as doses de droga... Esse aí parece um burguês...
Com passos indecisos, o homem se aproxima e logo foi dizendo:
- Você é a Natasha?
- Não o conheço. O que o senhor quer?
O homem olha para ela e pergunta:
- Você não me reconhece? Não sei se quer me receber...
- Olha, não sei quem é o senhor. Por acaso tem um nome?
Ivan interrompe dizendo:
- Ô cara, você tem que se identificar.
- Sei, eu vou dizer. Eu sou o pai dela!
- Meu pai? Não pode ser. Diga seu nome!
- Alexis! Querendo ou não, sou seu pai (faz-se uma pausa tensa). Sim, passaram-se muitos anos, muita coisa mudou e eu mudei... Vim lhe dizer isto.
- Eu não acredito! Ele se parece... Não, não acredito. Meu pai morreu. Me disseram com certeza que Alexis havia morrido e estava enterrado.
- Diga como era o nome da mãe dela!... Quer saber Ivan.
No reencontro a jovem grita ao homem encurvado, que diz ser seu pai:
- Eu não te conheço! Você diz que é meu pai. Se és, tu foste um falsário, um bandido!
A tarde agonizava rendendo-se ao anoitecer. Alexis responde:
- O nome dela era Anastácia e morreu quando você tinha 17 anos.
- Oh, destino cruel!! Então você é o bandido Alexis que matou minha mãe?
Ivan, neste instante, interrompe Natasha:
- Calma Natasha. Eu não sei ao que vem esse cara.
- Expulse esse canalha! Saia daqui! – ela gritava.
- Eu vim lhe pedir perdão porque te expulsei de nossa casa. Não quero nada a não ser seu perdão. Foi o último pedido que sua mãe me fez, e não devo fracassar.
- É mentira desse falsário! Dois anos antes de me expulsar, ele arranjou uma mulher de rua e nos largou na calçada. Assassino! Tive que fugir só com a roupa do corpo!
- A mulher de rua que você fala me abandonou e fui procurar sua mãe no hospital, mas já era tarde. Trouxe comigo esse broche e nele está o retrato da avó que sua mãe trazia sempre ao pescoço.
Natasha olha com fingida distância a joia que bem conhecia e desmaia. Ivan tenta reanimá-la, abanando um papel em seu rosto, abraça-a e diz a Alexis:
- Olha o que você veio fazer com minha companheira. Olha, se você está mentindo não vai sair vivo daqui.
- Vamos baixar a guarda. Pelo olhar vi que ela já me reconheceu.- Arrisca Alexis
- E como você a achou?
- Uma vizinha perto da fazenda viu minha filha pela janela do vagão do trem e ao descer tentou encontrá-la, mas não conseguiu em meio a multidão.
- Natasha sempre contou que você a surrou quando ela chegou bêbada de um aniversário. E que ameaçou denunciá-la como drogada!
- Isso foi verdade... Mas depois sofri muito com a perda das pessoas que mais amei e agora meu arrependimento pede perdão à Natasha. Meu amor por ela estava minado pelo orgulho e o preconceito que me levaram à queda. Os egoístas se alimentam com desejos, nunca pelo amor.
- Óh, ela está voltando a si! – exclama Ivan.
Natacha acorda murmurando e babando. Ivan mede seu pulso e a massageia até fazê-la sentar.
- Óh Natasha, você está melhor?
Ela se contorce e com dificuldade diz:
- Preciso de água, água...
- Tenho um amigo aqui perto que irá nos dar essa água. Vou chamar o táxi. – diz Alexis ao ouvido de Ivan.
Ivan permanece perplexo e, pouco depois, Alexis volta no táxi. Natasha desmaia novamente e Ivan carrega-a ao banco traseiro do veículo. A viagem dura poucos minutos e Alexis ajuda-a a descer. Natacha soerguida, abraçando os dois, nem reparou no portal do enorme edifício em que entram os três. Um guarda ao telefone chamou alguém e, momentos depois, surge um homem moreno, de barba espessa, trajando vestes marrons de sacerdote ortodoxo. Alexis vai ao seu encontro e os dois emocionados abraçam-se. Murmurando, o visitante explica ao amigo de infância que o acolhia e este ordena ao guarda para que ajudasse as 3 pessoas a entrar. Natasha bebe a água em sôfregos goles e logo é colocada num sofá para descansar. Ela fecha os olhos, em repouso. O que acontecia?
Alexis e Ivan sentam-se em poltronas da sala e Ivan pergunta:
- O que é isso aqui?
O padre Josef, toma a palavra:
- Aqui é uma casa de amigos por ser um templo de Deus. Aqui os irmãos podem sentir-se à vontade, nós praticamos a fraternidade. Temos recebido peregrinos de outras regiões, fiéis ou não-crentes necessitados de auxílio. Todos precisamos de todos, porque ninguém sobrevive sozinho nem deve ser abandonado. Aqui podemos abrigar muitas pessoas eis que é grande o coração de Deus.
- Natasha e eu temos um compromisso no albergue e o tempo esfriou – diz Ivan.
- Temos leitos disponíveis – esclarece Alexis - Sempre que venho à cidade me alojo aqui e procuro descansar.
Josef continua:
- Dentro de pouco tempo teremos o lanche do anoitecer, os irmãos estão convidados. Temos um médico no mosteiro e ele virá aqui. A moça está indisposta para caminhar. Peço-lhes que fiquem. Poderá tomar uma sopa leve. Estava com muita saudade do Alexis. Ele há meses se ausentou daqui.
Logo chegou o monge médico, que, inteirando-se da situação atende Natasha, dando-lhe uma droga reanimadora. Ela respira fundo aos poucos olhando para o alto. Pensou consigo: estou sonhando. Onde está a praça? Sinto frio aqui.
Era um lugar impensável para ela. Considerou sem ansiedade que ainda restavam duas doses na sacola.
O lanche da noite foi servido numa sala ao lado, a pedido de Alexis. O sacerdote retirou-se e Natasha sentou à frente do pai, com Ivan ao lado. Ela recusou-se a comer, só queria água. Havia no ar ondas de constrangimento até que Ivan arrisca falar:
- Vem em boa hora o café quente, em meio a essa chuva com vento. Temos que agradecer a você Alexis a mão que nos estendeu. Não sei como isto pôde acontecer.
- Onde você conseguiu a medalha de minha mãe? – pergunta Natasha.
- No hospital, antes de morrer ela me pediu que entregasse a ti. E para que não duvides mais que sou teu pai, trouxe também uma foto de nós três quando você tinha 7 anos. Olha! Lembras?
Natasha espia a foto com espanto e frustração. Incrédula repara detalhes da foto. Vê o pé de laranjeira que havia no fundo do quintal com fisionomia contraída. Furtivas lágrimas escoaram dos olhos castanhos, iguais aos do pai limpando-as com a manga do vestido ela diz:
- Penso nas voltas que a vida pode dar... naquela época estão minhas dores no sentimento. Melhor seria não lembrar.
- As mágoas que trago são tantas que esqueci tudo. Nunca mais consegui comandar minha vida. Eu era a filha que lhe amava. E minha mãe foi uma santa pra você.
- Sim, eu não era só bêbado, eu estava enlouquecido. Caí na vida como quem cai de um precipício.
Natasha acrescentou: - A polícia me procurou porque você me denunciou como drogada! Não era, mas depois fiquei sendo.
- Aceito a humilhação que devo pelo meu erro. Judas vendeu o Cristo e ele a cada século retorna ao túmulo do Mestre para agradecer o perdão recebido. Voltei para recomeçar uma nova vida. Consertar meus erros. Peço que me dê uma última chance, pois não quero voltar ao álcool. E minha vida afunda para sempre. - Desta vez Natasha percebe lágrimas sofridas na face do pai. Era o retrato da súplica! Quem diria...
- Mas o que você quer de mim? Não basta o passado? – pergunta ela.
- Venho te pedir perdão. E que voltes para nossa fazenda onde quero resgatar o que devo. Todos devemos ter nova chance. – conclui Alexis.
- Qual é o preço da mocidade perdida? Preciso da droga. A cocaína me arrasa e permite que eu continue respirando neste mundo poluído. Tenho medo da morte.
- Natasha, minha filha, eu preciso de ti por muito tempo.
- Cala-te. Tu já mostraste que não me amas. Ninguém me ama!
Alex gagueja: - Minha boca não é fiel ao meu coração, que chora. Minha avó dizia que “Sempre há um tempo”...
Ivan sente-se confuso e pensa: - Nunca vi isto, minha vida foi diferente. Se Deus existe, só Ele pode acalmar essa tormenta.
Padre Josef, neste instante, interrompe o diálogo:
– Humildemente peço licença aos irmãos para entrar na vossa conversa. Em certos momentos surgem palavras que podem mudar caminhos. Num tempo que já passou eu tinha viajado para outra cidade e, ao voltar, soube que a pessoa amada conversara encantadamente com um antigo namorado. Enciumado fui ao seu encontro exigindo uma explicação. Ela confirmou aquele ocasional encontro, mas disse que fôra apenas um diálogo sem nada importante. Embora por duas vezes me pedisse desculpa, eu não perdoei e dei-lhe as costas. Dois dias depois, o ônibus de seu colégio acidentou-se contra um caminhão e ela, que estava no primeiro banco veio a falecer. Por dois anos chorei o amor perdido e ao 3º ano, através de um amigo seminarista fui buscar em Cristo um novo caminho para minha vida. Hoje, felizmente, nele me realizo. Irmãos, perdoem! O perdão é libertador e quem um dia amou, perdoa mesmo com o coração sangrando. Peço, com a alma de joelhos, aos três, que aceitem o pernoite nesta casa de Deus. Amanhã é um novo dia e os raios do sol secarão vossas lágrimas. Deem, então, uma nova alegria para este condoído padre. – Josef prossegue em suas orientações ao grupo:
- As lágrimas de Natasha se transformarão em pérolas diamantinas espelhando o mundo que renasce a cada amanhecer. Em Ivan, já mais antigo nas dores familiares, surgirá um anjo da guarda para os tombados que se erguem da lama, porque Deus pode tudo. E o pai Alexis, que caminhava pelas sombras, terá seu sofrido coração paterno anestesiado pelas reparações que novas oportunidades lhe propiciarão desde logo. Nunca abandonemos a esperança. Peço ao infinito amor de Deus que nos conceda pela misericórdia que possamos orar os 4 irmãos juntos agradecendo esta noite iluminada pelo nosso grande Pai. Notando o retraimento de Natasha em estender a mão ao pai Alexis, Josef toma sua mão esquerda enquanto Alexis toma a da direita, o padre olha para o Alto e diz:
- Que a Luz se faça entre nós, oremos com todo o nosso coração, com toda a nossa mente e com toda a nossa alma a prece de Deus vinda até nós pela boca de Jesus: “Pai Nosso que estás no Céu, santificado seja o Teu nome, venha a nós o Teu reino, seja feita a Tua Vontade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores e não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mal. Amém.”
Anjos do Senhor vindos da Luz profunda produzida pela intensidade daquela oração, abençoaram aquela efusão das almas suplicantes por novos caminhos.

NOTÍCIA AO LEITOR
A Instituição de Josef é um reeducandário fraterno para ressocialização pelo amparo aos drogados e alucinados pelo vício. Foi difícil induzir Natasha e Ivan a permanecer na Casa que os recebeu naquela noite de transformações. Após idas e vindas, o casal concordou em viver ali. Aquelas palavras cheias de calor afetuoso ditas com sincero desejo de ajudar, naquela hora de confrontos e resgates, deram início ao grande perdão que surgia ao amanhecer seguinte. O casal consolidou o tratamento após submeter-se a um regime de desintoxicação. Ivan tornou-se palestrante e líder da espinhosa tarefa de recepção e encaminhamento de drogados, enquanto ela, ao retomar os estudos aprimorou-se em pedagogia da reeducação. Sua vida então ganhou sentido. Alexis, tendo vendido sua fazenda, comprou uma casa a três quadras da instituição e, aos fins de semana, recebe o casal que criou raízes no novo lar. A vida tem longas e variadas estradas e recursos para alcançar-se a montanha da Luz Infinita.
Temos assim uma comovida e gloriosa história de um pequeno grupo de almas comprometidas entre si em programas de evolução ascensional. O mundo das drogas tem um estreito viés tortuoso para alcançar-se o objetivo comum a todos os seres: evoluir interminavelmente.
Inexiste no Mundo e no Universo lugar onde queira alguém refugiar-se dos devaneios da própria mente. O homem não pode fugir de si próprio.
Nos caminhos da existência não há terceira via ou alternativa: de um lado somos impelidos a subir pela estrada da Evolução. De outro, Deus não abre mão do seu Amor pelas suas criaturas. Tudo se conserta e se explica pelo caminho das vidas sucessivas.
Vamos repetir: sem a Lei das Vidas sucessivas não há como explicar a Justiça, a Perfeição e a Misericórdia Divinas. As injustiças e a má conduta que praticamos, seja a crença que sigamos, ali adiante vamos ter que resgatar com lágrimas.
Ergamos bem alto o archote de Luz que libertará o mundo!


Se você leu estes contos qual sua opinião sobre tão cruciante questão?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Prece na Luz e na Energia



Oh mãe Maria Santíssima
Que socorre os aflitos
Minha prece aqui se ergue
Em nome dos excluídos
Pelas falhas humanas
Que ignoram os Evangelhos
E se afastam da Luz.
Mãe dos desesperados
Dos traídos e desamados
Rogo ao Pai Divino
Que nos ajuda a afastar
As sementes da escuridão
As dores da nossa alma
Pelo trabalho reconstrutor
Da fraternidade e do Amor.
Abençoa os teus filhos
Que choram e gemem
Nas trevas do desamparo
Que cerrou as portas à Esperança.
Ajuda-nos Mãe Querida
A vencermos nesta vida
O equívoco das nossas limitações.
Com esta energia vinda de ti
Vamos resolver nossas questões
Harmonizando os nossos corações.
Assim seja!

André Luiz

(Mensagem recebida no dia 24/10/2009 no trabalho de curas no Lar Irmã Esther pela psicografia de Fernando Ós).

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Susto ante um fantasma em Machu Picchu




 "Quando eu me dei conta, corria esbaforido, montanha abaixo!"


            Tempos atrás contei o caso que vivenciei em Machu Picchu, Peru, após uma viagem de trem de Cuzco àquela remota região montanhosa de 2500 metros. Formávamos um grupo de uma centena de turistas preocupados apenas em divertir-nos no célebre santuário dos sacerdotes incas que naquele lugar viveram e adoraram seus deuses e ilusões, centenas de anos antes de Cristóvão Colombo aportar na América. No grupo havia americanos do norte, do centro e do sul, além de europeus ávidos de conhecimento e aventuras. No restaurante do trem havia bebidas alcoólicas, sanduíche e pipocas. Descemos ao pé da montanha e subimos uma rampa de ônibus em avanços ziguezagueantes. Após a chegada no restaurante frente a ruazinha que é o pórtico de acesso ao santuário, em meia hora estávamos frente ao Templo do Sol, erguido de pedras como as demais casas, edifícios, muros e platibandas. Os guias avisaram-nos que ficaríamos ali por umas três horas. O trem de regresso à Cuzco sairia às seis da tarde.
           Eu não adivinhava o que estava para acontecer.
           Desabitado por vários séculos, Machu Picchu ainda retém em si o ar de santuário. Seu segredo são espíritos milenares que ali permanecem, como vim a saber depois, mas a curiosidade de saber onde ficava a porta original da cidadezinha, a porta que ligava Machu Picchu à Cuzco, levou a mim e a outros três visitantes a tentar escalar duas elevações montanhosas que ocultavam a histórica porta que recebia somente sacerdotes incas, as virgens do santuário e os servidores que cuidavam das lhamas carregadas de alimentos, cada uma conduzindo nas ancas 2 cestas com 34kgs de provisões.
            Na época o trajeto montanhoso, feito a pé, levava uns 6 dias e, para mitigar a fome, o cansaço e o frio das noites nevadas, todos mascavam folhas de coca. A folha de coca é inocente, o que não é inocente são os usos que dela se faz.

            Bem, do grupo turístico que galgou a primeira elevação, dois desistiram por cansaço e voltaram ao santuário. Quando eu e outro companheiro galgamos a elevação seguinte, meu companheiro ficou em pânico quando perdemos de vista Machu Picchu. Não entendi o que ele alegou em espanhol rápido, mas ele estava com medo que nos perdêssemos. Disse a ele que sim, que dispensava sua companhia, mas eu tinha que continuar. Imaginei que a procurada porta estava perto de nós, era só mais um esforço.
            E realmente, 10 minutos após avistei a aguardada porta de pedra, em estilo barroco. E continuei andando, admirado com o esplendor do céu colado ao cume nevado das montanhas circundantes.
            A surpresa entremeada de pavor me veio ao contornar a primeira curva do caminho dos incas. Quinze metros à minha frente, no lado esquerdo, enxergo uma pessoa vestida como sacerdote, na cabeça levava um tricórnio no mesmo estilo do portão que havia cruzado. No peito havia medalhas ou penduricalhos. Mas o que reparei mesmo foi o seu olhar interrogativo e inquisitório, como se estivesse me dizendo: “- O que você faz aqui? Saia logo antes que eu chame meus guardas.” A seguir sumiu, ou melhor, se desmaterializou. E eu não esperei um segundo para ver se entendia aquilo. Dei meia volta já em velocidade e me pus a correr com o coração aos pulos. Corri por uns 20 minutos até avistar nosso alegre grupo turístico. Arfava de cansaço e medo. O que era aquilo?! Eu não acreditava em espíritos, mas o cara tinha desaparecido mesmo. Passou-se um tempo grande e eu não conseguia entender o que ele me tinha dito só com aquele olhar furibundo, sem usar palavras.
            Anos mais tarde ingressei no Kardecismo e só então pude entender o ocorrido. Aquilo ficou gravado no meu inconsciente e então me foi explicado que o fantasma possivelmente era o espírito de um sacerdote e que talvez eu vivera naquele santuário por muito tempo nos cultos e sacrifícios dos incas. Aquele que surgira à minha visão era um sumo-sacerdote, e tanto este quanto outros sacerdotes ainda estavam ali guardando o templo desde os invasores de Pizarro quanto os baderneiros da era atual.
            Alguém me disse certo dia: “No outro lado da vida não existem calendários. Para muitos espíritos a duração de um único dia, pode durar 500 anos. As paixões humanas podem ter essa duração na mente dos alucinados que, por paixões compulsivas, perdem a noção do tempo e das vidas sucessivas.” O que percebo é que, principalmente nos sítios históricos, os visitantes se dão conta dos espíritos que ali permanecem, enraizados nos episódios que ali vivenciaram.

Jornal Gazeta Centro-Sul publica matéria com Fernando Ós


Leia a seguir, a reportagem na íntegra, pubicada dia 31/10/2009.


Destaque Gazeta
O destaque do mês de outubro foi o espiritualista e escritor Fernando Worm.
Perseverança, benevolência e fé são algumas das inúmeras qualidades do Destaque Gazeta do mês de outubro, o espiritualista e escritor Fernando Worm.
Natural de Guaíba, aos 80 anos - feitos no dia 20 de outubro, Seu Fernando, como é chamado por muita gente, recebeu com grande simpatia a equipe da Gazeta, no escritório do Lar Irmã Esther, para falar sobre os trabalhos sociais realizados através do Centro Espírita; seus livros; e relembrando os dez anos e dez meses em que assinou a coluna “Gotas de Luz” na Gazeta Centro-Sul.
Em maio deste ano, Fernando Ós (nome que escolheu para assinar suas obras) lançou, em São Paulo, o livro “A Viagem com Chico Xavier”. Com a humildade que lhe é costumeira, salientou que não merece ser Destaque, ressaltando, porém, a importância dessa participação para o Lar Irmã Esther, que necessita ser ajudado pela comunidade guaibense.
Homem inteligente, com uma história de vida brilhante, ele descobriu o mundo dos espíritos após a morte de sua mãe, em 1973, através de Chico Xavier. Em 23 de julho de 1979, fundou o Lar Irmã Esther, localizado na Rua São José, que, além da prática do Espiritismo, presta exemplar apoio às pessoas em vulnerabilidade social. Esses são alguns dos motivos que tornaram Fernando Worm o Destaque Gazeta do mês de outubro.

Guaíba é uma cidade que deverá ser uma grande metrópole após vencer seus grandes problemas como injustiças sociais e o grande consumo de crack.

Gosto muito de ler e escrever. Atualmente, estou escrevendo um livro sobre drogas, mais especificamente a juventude e o crack. O jovem dependente do crack leva consigo toda a família ao sofrimento sem horizontes.

Não gosto de pais e mães que criam mas não educam seus filhos devido a ignorância e abandono.

Numa equipe de trabalho tem que ter união. Somos uma equipe e todos somos colegas, voluntários a serviço do mais alto.

Se está difícil, saiba que as dificuldades são pedras no caminho e que devemos remover.

Meu prato favorito: Feijão e arroz.

Time do coração: Não acompanho futebol.

Nos fins de semana, aos 80 anos, meu lazer dominical é assistir televisão ou ir a um sítio que temos no Bom Retiro.

Recado aos Políticos – Chico Xavier me disse, certa vez, que os políticos e professores com vocação vieram ao mundo com a missão de aperfeiçoar o ser humano, mas que não devem entrar em contato com o dinheiro e o poder.

Receita para Guaíba ser 10 – Temos cerca de 44 vilas de carência cercando nossa cidade. Precisamos ajudar aos pobres, aos desassistidos, aos enfermos, excluídos e famintos. Aqui no Lar Irmã Esther, estamos plantando uma semente.

Recado Final – Tenhamos esperança. A esperança é tão necessária quanto o oxigênio para nossos pulmões. Quando desistimos da esperança, morremos em vida.

FOTO: FA/GCS