segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

QUANDO O FALECIDO VOLTOU PARA VINGAR SEU ASSASSINO


Após a morte haverá uma Luz em teu Espírito

Com nomes fictícios o caso que vou contar é baseado na realidade e nas leis que regem a vida e o mundo. E aqui reproduzo o caso deveras estranho com o qual me defrontei em tantos anos de entrevistas com pessoas de toda linhagem durante esses atendimentos. Meu trabalho no Lar Irmã Esther era o de ouvir pessoas que perderam o rumo na estrada dos resgates.

Na primeira vez que encontrei Jean Pierre ele estava sob a tutela de sua avó Constanza. Ela dizia que o menino, com 7 anos de idade, andava muito nervoso, roía as unhas até sangrar e conseguira um canivete para brincar no bairro. Perguntei-lhe o nome, se já sabia ler e escrever e se pretendia usar o canivete. Respondeu corretamente, soletrou o nome e disse que tinha o canivete para brincar. Fiz então 2 ou 3 perguntas acerca do neto e Constanza resolveu explicitar o histórico do caso...

Jean Pierre era fruto da relação que seu filho Guilherme tivera com Veruska, que era viciada em álcool e cocaína. Seu filho trabalhava como tratador de cavalos vindos da Mongólia. Em certa tarde de horrores, no 5º ano de casamento, Guilherme apareceu morto com várias facadas no abdome. A polícia investigou frouxamente e o episódio caiu no esquecimento. A mulher juntou-se a um outro homem e, no ano seguinte ficou grávida de um casal de gêmeos que abortou por deficiência orgânica.

Na semana em que abortou viu claramente num sonho a expressão raivosa do ex-companheiro, aparecendo com gotas de sangue nas mãos, que lhe deu com clareza o seguinte recado: “Não importa. Na tua próxima gravidez, a criança serei eu!” Por dois dias ela sentiu-se intrigada com o sonho, mas pontuou que devia esquecer o pesadelo, que atribuiu ao estado de nervos que lhe deprimia nos últimos dias. E deixou que o tempo esfriasse o que para ela era apenas um pesadelo.

No ano seguinte sobreveio-lhe uma gravidez tumultuada, com seguidas tonturas e perda de sangue. A avó contou que ficou muito contente com o nascimento de Jean Pierre, um bebê frágil e de saúde precária.

Veruska, a mãe atribulada e fugidia não desejava a criança e assim ficou fácil doar o filho para a avó, que morava sozinha na casa da frente. A mãe viajou com o companheiro para o Nepal, a fim de servirem de guias para escaladores estrangeiros que se arriscavam a subir os picos gelados do Monte Everest.

Nos 27 meses seguintes à viagem de Veruiska, a avó gastou todas as economias que juntara no Banco, tratando das doenças que enfermaram Jean Pierre. Após o tratamento o menino ganhou peso até que, aos seis anos, entrou numa escola de aprendizagem alfabética. Não era um aluno esforçado, mas sendo perceptivo, cedo aprendeu a ler e a escrever.


O fator favorável na entrevista que mantínhamos era que Constanza se disponibilizava para a troca de conteúdos sobre o caso. Ela acrescentou: - Desde cedo Pierre interessou-se pela morte do filho. Ficava a ouvir detalhes como se fosse uma antena sensível. Num certo dia ele me disse: “Ninguém lembra, mas eu lembro!” Em outra ocasião disse: “Se não encontrarem quem foi, eu vou descobrir.” Aos 18 anos entrou para o exército e aprendeu a manejar armas. Quando dormia em casa, preferia conversar com pessoas que conheceram seu pai e souberam do episódio da sua morte. Continuou fazendo pequenas entrevistas até que uma noite, jantou na casa de um amigo, cuja mãe contou-lhe que na época morava na esquina da rua em que Guilherme apareceu morto, contou o que sabia, dizendo: - Não houve interesse policial na elucidação porque havia então uma guerrilha entre traficantes da região, e Petrov, o padrasto era chefe de uma das gangues. “Eu nunca quis envolver-me”, conta ela. Nunca ninguém tocou no assunto, mas vou contar já que tanto quer saber. O interesse por Veruska despertava rivalidades entre Petrov e Ivan, um viciado que traficava para sustentar a dose diária de cocaína. Meu marido e eu tínhamos então uma cantina que abastecia a demanda de Vodka. Certo dia um dos vendedores da boca de fumo próxima, me assegurou à boca pequena “ter certeza de que quem matou Petrov foi Ivan. Mas há outras versões. E Ivan, dois anos após o assassinato, amanheceu congelado numa rua deserta. É só o que sei sobre o caso.” Não era seguro especular sobre o fato até porque havia policiais que eram parceiros de traficantes.

Após várias visitas e contatos Pierre bateu à porta de um ex-integrante de milícias que executava traficantes. O sujeito, já envelhecido, recebeu-o desconfiado de que Pierre pertencesse a alguma gangue de agentes policiais. Mas Pierre pressentiu que estava chegando na pista certa e tratou de conquistar-lhe a confiança. Presenteava-o com Vodkas refinadas até que, na terceira vez que tocou no assassinato de seu pai, Orlof lhe segredou entre arrotos alcóolicos: “Quem enfiou a faca no ventre de Guilherme foi Petrov. Eu fui avisado por moradores vizinhos que ouviram a discussão entre os dois e logo depois avistamos o corpo tombado na calçada.” Pierre, embora impressionado, não se contentou com as afirmações de Orlof. Como grandes nuvens negras, duvidas pairavam sobre sua mente, embora sentisse que agora pisava terreno mais firme. Apenas pediu ao ex-militante que pudessem voltar a falar sobre a misteriosa morte do pai, no que obteve sua concordância.

Realmente, dois dias depois, Pierre voltara à casa de Orlof. Depois de uma calma conversa, o dono da casa se ergue da cadeira, vai até um velho armário e, em silêncio, mostra a Pierre um punhal de prata em cujo cabo de osso gravado bem nítido o nome Petrov e acrescenta: “Tome. Aqui você tem a arma que tirou a vida de Guilherme. Guardei-a em respeito a amizade que tínhamos. E acalme o coração. O tempo não volta. Guarde para si essa arma, mas sem revolta.

O que a maioria dos homens da Ciência ainda não percebeu é que, pela via da lei reencarnatória, ao longo das vidas sucessivas, de cada existência vivenciada, o Espírito conserva segmentos de uma memória existencial de vidas anteriores. Embora Pierre nada soubesse sobre a “lei das vidas sucessivas”, ele pressentia que já viera naquele ambiente de morte.


Agora Jean Pierre tinha nas mãos a prova que queria. Teria tempo para planejar a vingança. Na época Petrov e Veruska tinham arranjado emprego com melhores salários em restaurante no centro de Tóquio. Ele afiaria com vagar a lâmina do mesmo punhal que agora seria enterrado em Petrov. A vingança é uma consolação sombria para os corações exasperados ou rejeitados.

Nesse meio tempo, ele deu baixa do exército e voltou a morar com a avó. Caiu em funda depressão após a última visita a Orlof, mas nada dizia quando Constanza lhe perguntava sobre a causa daquela tristeza. Ela quis levá-lo a um psicólogo, mas Pierre resistiu. Ele remoía em silêncio as emoções que o deprimiam. Aquilo não era assunto para médico, refletia. E uma profunda e silenciosa melancolia abateu-se sobre aquela casa.

Dois meses de silêncio levaram Constanza a suplicar a presença da médium Vera naquele lar. E quando a médium surgiu à sua frente, Pierre recebeu-a com forçado sorriso.

Embora avisada acerca do real plano que Pierre arquitetava contra Petrov ela iniciou a conversação com tranquilidade. Falaram sobre o tempo, embora as ruas moscovitas andassem pigmentadas pela poluição, naquela tarde o sol brilhava glorioso sobre a cabeça dos apressados cidadãos.

A conversa já se alongava por quase uma hora quando afinal a médium fez a Pierre a essencial pergunta: “- E como estão os sentimentos de sua alma? Ainda lembra muito a morte de seu pai?” Lágrimas sentidas voltaram aos olhos do jovem. Ele não conseguia responder. Palavras trancavam a voz. Medo e muita insegurança. Embora apenas intuída mas temerosa acerca dos sentimentos ou propósitos de Pierre. Quem lhe colocara na alma um outro rumo na vida?

A médium, em transe, começou a falar-lhe: “- Pierre, está aqui ao meu lado, um espírito venerado e amigo, que tem algo a dizer.”

“Sabemos da tua profunda tristeza e desalento. Mas você é jovem e a vida tem que prosseeguir. Não se deixe derrotar pelo rancor. Quem te fala é um Espírito compassivo que tem orado constantemente, pedindo a clemência de Deus para os graves transtornos e desalentos na família.” A seguir o Espírito pede a Pierre: “Meu filho, põe a tua mão sobre a minha e vamos orar. Façamos isto”. Após rezar o Pai Nosso, sempre sob lágrimas de Pierre, o Espírito fala: “Nunca deves usar aquele punhal que conservas no guarda-roupa. Recebi licença do céu para revelar-te o segredo de tua existência. Ouça e guarda na mente e no coração: Já sabes quem empunhou a arma. Tempos depois, Veruska juntou-se a Petrov e, quando engravidou pela segunda vez, a criança que veio a dar à luz era tu próprio. E por isso, desde criança querias saber quem eliminou Guilherme, que foste tu na tua anterior reencarnação. Vieste para perdoar aquele que te tirou a vida, mas chegado aqui, o ambiente hostil que te recebeu, inconscientemente, armou em teu peito a vingança longamente acalentada.”

Houve então uma pausa mais longa. Pierre ativava uma saliva abundante na boca, ele mal conseguia assimilar aquelas revelações fortes que podiam transtornar o pensamento, agora mais temeroso. Refletia incredulamente: “Então Petrov matou-me? Pois se ele me tirou a vida, não deve ser punido por isto?”

Como quem tivesse assistido numa tela as contradições da mente de Pierre, o Espírito pausadamente argumentou: “Sou um Espírito e aprendi a ver com novo olhar as mazelas humanas. Demorei-me em aceitar essa aquisição porque saí da vida terrestre com profundas mágoas de pessoas e coisas. A vida mundana propicia muitos melindres e chagas no coração. Mas te digo Pierre, com a visão expandida: É perdoar não através dos lábios, mas com sentimento sincero.

Nada pude fazer por ti devido ao surgimento do rancor. Pensamento que estaciona no ódio é o que mais prejudica nos dois lados da vida. Deixa-nos cegos e sem rumo. Inobstante, há tempo. Se quiseres reforçar teu raciocínio de paz, te informo sobre um episódio anterior ao que agora sabes: Em encarnação anterior, quando tu e Petrov eram nobres no império Romanov, devido a intrigas de ambição sobre terras de fidalgos da corte Czarista, levaste Petrov à morte. E ele era teu sócio na exploração agrícola de camponeses maltrapilhos. Por aí podes entender que os dois assassinatos estão entrecruzados. O que os dois plantaram foi exatamente o que colheram. Bem, consumi o tempo que os Espíritos superiores me deram para que evites continuar no círculo cruel e primitivo de matanças intermináveis. Minha sugestão ou conselho é que, nos meses vindouros, antes do regresso de Petrov a esta região, converse com esta irmã que me recebeu mediunicamente, ouça as orientações que ela te dará, siga seus conselhos, ela quer a tua renovação. Abraço-te e vou orar por ti, meu bisneto do coração.”


NOTÍCIAS AO LEITOR:

Devido a uma pneumonia grave, Jean Pierre esteve em tratamento intensivo no Hospital Geral de Moscou. Constanza visitava-o a cada domingo, dando-lhe forças para que se recuperasse. A médium visitou-o por três vezes e, ao voltar para a casa da avó, Pierre conseguiu retornar à carreira militar e jogou a arma que mantinha guardada na fossa de um córrego próximo.

Pierre, não mais se encontrou com Petrov e este, após ter se separado de Veruska, após ferir a coluna num acidente de carro, foi abandonado por Veruska e afundou no hábito de entorpecentes até morrer.

O médium Chico Xavier, questionado por jornalistas da morte de cada pessoa, serenamente respondeu: “A morte de cada pessoa é sempre igual a vida que viveu.” A vida é governada por leis exatas e só a Luz nos livra de abismos que ponteiam a caminhada terrestre.

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